quinta-feira, 29 de junho de 2017

Os dubladores da Boca

Segue uma reprodução de uma matéria publicada no anuário da Revista Cinema em Close-Up de 1977:

O dublador representa uma das peças mais importantes na feitura de um filme brasileiro, e principalmente na tradução de estrangeiros, que são apresentados no Brasil através da televisão.

Pela pequena difusão do som direto em filmes de longa-metragem brasileiros, a participação deste profissional se faz sumamente importante, emprestando sua voz.

Apesar disso tudo, continua o dublador como um “ilustre desconhecido”. Foi pensando nessa circunstância que resolvemos publicar em nosso anuário (e continuar publicando nos próximos) alguma coisa sobre este elemento, para que o público conheça sua real importância.

Claro que estamos mostrando apenas uma pequena parte do que existe dentro do mercado paulista de dubladores, mas para o próximo ano estaremos apresentando, além de outros paulistas, também os cariocas.

A título de informação: em São Paulo existem quatro principais estúdios de dublagens: Odil Foo Brasil, Kinosom, A.I.C. (Arte Industrial Cinematográfica) e Álamo Laboratório de Cinematografia e Som (detentor de cerca de 90% do mercado de trabalho para dublagens de filmes estrangeiros apresentados na televisão).

São dubladores:

ALIOMAR DE MATTOS
Começou carreira no rádio em 1940, no Rio de Janeiro. Mais tarde, diversificou-se, tendo tido experiências em todos os ramos da arte de interpretação: cinema, teatro, rádio e televisão.

Foi protagonista da “Companhia Procópio Ferreira”, durante cinco anos, ocasião em que viajou por todo Brasil.

Na Televisão teve importante participação em programas humorísticos e no “Grande Teatro de Comédia”, na TV Tupi do Rio. Em São Paulo, esteve na TV Bandeirantes, canal 13, onde, entre muitos trabalhos destaca-se o sucesso que fez durante dois anos no programa infantil naquela emissora, chamado “Carrosel”, onde interpretava a personagem “Dinda”.

Entrou para a dublagem em 1958, quando esse processo estava em seu início, no Rio de Janeiro. Transferiu-se para São Paulo em 1967, passando a dublar para A.I.C., tendo ainda colaborado em outros estúdios. Há um ano é contratada pela Álamo.

Entre seus mais importantes trabalhos destacam-se as séries “A Noviça Voadora”, “A Feiticeira”, “Agente 86”, “Os Audaciosos”, “Os Flinstones”, entre outros.

Dubla também crianças em filmes comerciais para televisão, com voz caracterizada (na série “Os Flinstones” faz a voz da garota Pedrita, filha de Fred e Vilma Flinstone).

ARAKEN SALDANHA

Iniciou a carreira como ator físico em televisão, tendo feito importantes trabalhos. Nessa mesma época iniciou-se no rádio, contratado pelos Diários e Emissoras Associados. No início da década de 50 começou a dublar, justo no momento em que a dublagem aparecia efetivamente no Brasil.

Por sua capacidade, constitui-se numa das mais belas vozes da televisão. Dublou “Jim das Selvas”, “Missão Impossível”, entre outras.

Os maiores atores internacionais (Richard Burton, por exemplo) tiveram Araken como seu dublador para o Brasil.

Como ator físico no cinema teve participação em filmes como Uma Pistola Para Djeca de Ary Fernandes e O Jeca Macumbeiro de Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi.

Há dois anos é proprietário-fundador da empresa Kinosom, especializada em dublagem de filmes brasileiros.

CHICO JOSÉ
Francisco José Correa iniciou carreira profissional em 1965, como ator em teatro, onde fez “Os Sinceros”, de Ide Almeida (1965), “Joana D´arc entre as chamas de Paulo Claude (1967), “O Evangelho segundo Zebedeu” de César Vieira (1973), “Os Inconfidentes” de Orlando Senna (1972), além de uma passagem por teatro de revista em 1976.

Também teve experiência como ator em televisão, tendo participado de vários programas, todos na TV Tupi de São Paulo, como: “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, “Confissões de Penélope”, “Do Camilo e Os Cabeludos”.

Criador do boneco-vivo Vigarino da “Turma do Tongo-tong”, apresetaod em teatro e nas TVs Tupi e Record de São Paulo.

Como dublador teve trabalhos de maior importância. Emprestou sua voz para as séries “O Homem de Virgínia”, “A Cidade das Ilusões”, “Protector´s”, “Jason King”, “O Imortal”, “O Galante Mr. Deeds”. Dublou os longas-metragens estrangeiros: “Os Valentes Vão para o Inferno”, “Somente com Homens Casados”, “Beau Geste” e muitos outros.

ELEU SALVADOR
Dono de profícua carreira no ramo de dublagens. Colocou sua voz em cerca de 2.000 longas-metragens para a televisão.

Teve sua voz nas séries “Jornadas nas Estrelas”, “Jeannie é um Gênio”, em desenho animado, “David e Julieta”, entre outros.

Considera seu trabalho mais importante em termos de criação e dublagem do filme “Cidade sem Deus” (Peyton Place), em 1973.

É especializado em criar tipos em cima dos personagens (sotaque inglês, francês, italiano, judeu, velho, criança, etc).

Grande parte de sua carreira na dublagem foi dedicada ao estúdio A.I.C.

Seu trabalho neste setor começou em 1967 foi até 1975, quando Eleu Salvador resolveu deixar definitivamente a dublagem para dedicar-se a carreira de ator físico no teatro, cinema e televisão.

HELENA SAMARA
Atriz essencialmente do rádio e dublagem, só agora teve sua primeira experiência no cinema, no filme Como Consolar Viúvas, de J. Avelar.

Começou carreira em 1954 como locutora e radioatriz na Rádio Tupi/Difusora. Ficou nesse emissora até 1964 (durante dez anos), até transferir-se para as “Organizações Victor Costa”, atual TV Globo. Lá se iniciou como atriz, tendo participado de vários programas (A novela “A Herdeira de Feriach” e o melodrama “Os Três Leões”).
A sua estreia no teatro foi marcado pela representação da peça “Lisistrata”, ao lado de Ruth Escobar, em 1967.

Atualmente deixou o vídeo e os palcos, e como as radionovelas já não tem popularidade de antes, Helena Samara tem a dublagem em filmes de longa-metragem brasileiros e estrangeiros (para a televisão) como ocupação principal.

Um dos personagens mais conhecidos que teve a voz de Helena foi Endora da série “A Feiticeira”.

Pretende continuar em cinema.

Helena Samara morreu aos 74 anos em 8 de novembro de 2007 em Belo Horizonte (MG)

JOÃO PAULO RAMALHO

Começou carreira no teatro, estreando na peça “Maria Stuart”, ao lado de Cacilda Becker. Depois transferiu-se para o rádio, tendo atuando na extinta rádio São Paulo por um período de dez anos, como radioator.

Paralelo ao rádio, voltou ao teatro com “Santa Maria Fabril”, depois de ter-se incluído no elenco das mais importantes radionovelas da época.

Do rádio saltou para a dublagem, emprestando sua voz nos estúdios da A.I.C. Atores como Rod Taylor, Kirk Douglas, Marcello Mastroiani e Ron Ely (na série Tarzan) foram mostrados na televisão brasileira com a voz de João Paulo Ramalho.

A partir de 1973, o dublador foi eleito Procurador Geral da empresa A.I.C., cargo que exerce até hoje.

Em 1976 voltou ás lides de ator físico, tendo feito o filme Como Consolar Viúvas, sob direção de J. Avelar.

João Paulo Ramalho morreu aos 74 anos de idade em 10 de dezembro de 2006 em Praia Grande (SP)


JORGE BARCELLOS
Seu nome verdadeiro é Manuel Yades Rezende da Cunha, e iniciou carreira profissional em 1959, no Rio Grande do Sul, como ator de radionovelas.

Em 1962 transferiu-se para a TV Gaúcha, ainda em Porto Alegre, tendo exercido funções de ator e produtor.

A partir de 1967 iniciou-se na dublagem, função que exerce até hoje, como contratado da Álamo Laboratórios de Cinematografia e Som.

Já colocou sua voz em atores conhecidíssimos como Robert Redford, Rock Hudson, Dean Martin, Robert Wagner e Montgomery Clift.

CAZARRÉ

É o filho mais velho do casal de atores Darci Cazarré e Déa Selva. Seu nome completo é Older Cazarré (Older, traduzido do inglês, significa “mais velho). Nasceu em 16 de janeiro de 1935. Estreou no cinema em 1939, com apenas 4 anos de idade, no filme O Bobo do Rei, ao lado de sua mãe Dea Selva. Voltou aos 11 anos, em Anastácio. Aos 13 fez Não me Diga Adeus ao lado do pai, Darci Cazarré. Viajou com a Companhia Dea Cazarré de propriedade de seus pais, onde teve experiências importantes em teatro. Desde seu início de carreira, caracterizou o tipo “velhinho”, tendo feito isso praticamente até hoje, na maioria de seus papéis, criando imagem de pessoa extremamente idosa. Em 1949, teve sua primeira experiência no rádio. Na televisão, estrou em 1954, com o programa “O Contador de Histórias”. Fez brilhante carreira. Em 1956, paralelo à televisão, iniciou-se como dublador. Criou vozes de personagens de desenhos animados, que depois ficariam famosas: Dom Pixote, Ploc (da dupla Plic e Ploc), Zé Colmeia, etc. Colocou sua voz em discos de uma série de historietas infantis de Walt Disney. Esse trabalho foi coberto de pleno êxito, e isso lhe valeu uma viagem aos Estados Unidos, em visita aos Estúdios Walt Disney, onde Cazarré, aproveitando a ocasião, fez um curso de direção de cinema.

Trabalhos importantes na televisão: “Hospital”, “Dom Camilo”, “Idade do Lobo”, “Conde Zebra”, “O Machão”, “O Sheik de Ipanema”, “Vila do Arco”, “Canção para Izabel”.

No cinema, destaca: O Sexualista de Egydio Eccio, O Supermanso, Ary Fernandes, O Quarto da Viúva de Sebastião de Souza, Eu Faço...Elas Sentem, de Clery Cunha, Passaporte para o Inferno, de J. Marreco.

Prepara-se para dirigir cinema.

Older Cazarré morreu  aos 57 anos de idade em 26 de fevereiro de 1992 no Rio der Janeiro (RJ)

MARCOS MIRANDA
Seu nome verdadeiro é Vaine Geisler Dutra. Iniciou profissionalmente na Rádio Farroupilha de Porto Alegre, em 1956. Nesta época Marcos cantava profissionalmente, e chegou a gravar quatro discos.

No ano de 1958, transferiu-se para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, onde participava de programas ao vivo como apresentador. Neste mesmo ano estreou no teatro de revistas onde acabou fazendo cerca de trinta peças.

Vindo para São Paulo, e abandonando definitivamente o Rádio e o teatro de revista, dedicou-se ao teatro de comédia, onde participou entre outras, das peças: “My Fair Lady”, “Marat Sade”, “Oh Que Delícia de Guerra”. Também esteve na televisão, pela TV Excelsior: “A Indomável”, “Caminho das Estrelas”, “A Pequena Karen”.

Também dedicou-se a dublagem de filmes para televisão e cinema, transformando-se num dos maiores dubladores atualmente. Sua voz é preferida em atores como Tony Curtis, Frank Sinatra, George Preppard, Paul Newman, Dean Martin, e outros. Também dublou várias séries entre elas “Persuaders”.

Como ator de cinema participou dos filmes: Rogo a Deus e Mando Bala, de O. Oliver; Lista Negra Para Black Medal, de Charles Oliver (esses dois filmes foram feitos por brasileiros usando pseudônimo estrangeiro. O Oliver é Osvaldo de Oliveira e Charles Oliver é Carlos Augusto de Oliveira. Marcos Miranda usou nesses dois filmes o pseudônimo de Mark Wayne); Gente Que Transa de Sílvio de Abreu; As Cangaceiras Eróticas de Roberto Mauro; Desejo Proibido de Tony Vieira; e a série Vigilante Rodoviário, de Ary Fernandes.

Fez comerciais para televisão há doze anos initerruptamente.

Marcos Miranda morreu aos 59 anos de idade em 7 de outubro de 1992 no Rio de Janeiro (RJ)

MARLY MENDES
Marly Mendes é o pseudônimo de Judith Prado Lux. Começou profissionalmente no rádio em 1943, trabalhando na Rádio Kosmos, como radioatriz. Depois, transferiu-se para a Rádio Panamericana e Rádio São Paulo.

Em 1951, foi para o Rio de Janeiro, onde militou na Rádio Clube do Brasil, depois passando pela Rádio Tamoio e Tupi. Foi nesta época que teve experiência na televisão, pela TV Tupi, Canal 6 do Rio de Janeiro.

A partir de 1967, abandonou definitivamente o rádio e a televisão, passando a se dedicar única e exclusivamente a dublagem.

Atrizes já dubladas por Marly: Shirley Booth, Telma Ritter, Françoise Rosy e muitas outras.

Participou ainda das séries: “A Noviça Voadora”, “David e Julieta”, “Lucy Show”, “Kojak” e outras.

Dublou ainda o filme “A Pequena Orfã”.

MARTHUS MATHIAS

Marthus Mathias de Faria iniciou-se profissionalmente em 1950 como radioator pela Rádio São Paulo. Nesta modalidade, participou de trabalhos extremamente importantes como “A Cabana do Pai Thomas”, “Teatro da Aventura”, “O Conde de Capricórnio”, entre tantos outros numa carreira continua que durou um período de 23 anos.

Também foi profícuo dublador de filmes brasileiros, tendo feito cerca de 17, entre eles: Casinha Pequenina, Jeca Tatu, Chofer de Praça, As Aventuras de Pedro Malazartes, Cidade Ameaçada, Conceição, Absolutamente Certo, A Marcha, Caís do Vício.

Teve ainda experiências como ator físico, todas elas na televisão: “Vitória Boneli”, “A Muralha”, “Uma Rosa com Amor”, etc.

Fez 12 trabalhos em publicidade para televisão.

Como dublador: “Os Flinstones” (é o dublador oficial para o Brasil do personagem Fred Flinstones), Rin-Tin-Tin, o Agente da U.N.C.L.E., entre outros.

Também emprestou sua voz para atores do nível de Jack Ellan, Antony Quinn, Lee J. Coob.

Marthus Mathias morreu aos 67 anos em 10 de janeiro de 1995 na cidade de Campo Grande (MS)

ORLANDO VIGIANI
Orlando Vigiani Filho nasceu em 17 de março de 1949, em São Paulo.

Começou carreira em 1956, cantando no “Clube do Papai Noel”, depois foi para a Rádio São Paulo, onde exerceu funções de radioator infantil, e neste mesmo ano, 1960, começou carreira como dublador.

Várias séries apresentadas na televisão que obtiveram sucesso, tiveram a voz de Orlando Vigiani: Dennis, o Travesso, “National Kid”, “As Viagens de Jaime”, “Os Jetsons”, “Rin-Tin-Tin”, “Johnny Quest”, “A Família Dó-Ré-Mi”, além de muitos longas-metragens tanto para a televisão como para o cinema.

Em 1974 foi contratado pela TV Bandeirantes para fazer o programa infantil “Carossel”, empreendimento que teve grande repercussão, ficando no ar por um período de dois anos, initerruptamente.


Atualmente, Orlando Vigiani está contratado pela Álamo Laboratórios de Cinematografia e Som, onde é responsável pela Coordenação Artística, ou seja é ele quem faz a escolha de vozes para os atores em filmes dublados por aquela empresa.

Nenhum comentário: